Quando os acontecimentos “insignificantes” do dia-a-dia se transformam em extraordinários processos de construção de significados assim que investigamos sobre a sua complexidade e profundidade.
Os desenhos não servem apenas para representar coisas, quando são acompanhados por narrativa podem representar também significados.
Van Oers, 1997
O João, 3A4m, torna visível através do seu desenho um padrão de comportamento (schema) ao nível do seu pensamento que tem emergido na maioria das suas brincadeiras:
• Rodear, envolver ou cercar (to enclosure, trad. para inglês)

Aqui representado temos um barco. O João fala sobre ele sem ter por perto qualquer adereço que o relembre de como é um barco. Desta forma o seu processo de pensamento é reflectido no relato verbal.
Aponta para a parte de baixo do desenho:
“Isto é para a água.“
– interpreto como símbolo (significa uma parte do barco, a que fica dentro de água) e objecto (significa a parte de baixo do barco)
Aponta para a parte de cima do desenho:
“E isto é o volante.”
– interpreto como símbolo (significa uma parte do barco, a que fica fora de água) e objecto (significa o volante)
Ao descrever as duas partes do barco o João mistura o seu pensamento com as suas experiências reais e ideias – já esteve dentro de um barco ou já viu um – o que revela intencionalidade esquemática: o “volante” e a parte que é “para a água” mostram que estruturou o seu pensamento e fez a sua escolha do que incluir no seu desenho – e é esta sua descrição que acrescenta significado ao objecto barco.
Este padrão repetitivo domina as suas narrativas e encenações: o cubo já foi uma piscina para onde mergulhou, o chão muitas vezes é o mar e ele um mergulhador, uma estante que se transforma num comboio depois de se encaixar lá dentro, e este comboio “está a afundar”, uma casa feita debaixo de um banco corrido, desenha círculos fechados com os marcadores no papel, são alguns exemplos.
O pensamento esquemático dinâmico das crianças manifesta-se nos seus desenhos e depende do seu processo: a sua forma de pensar e o conteúdo (experiências e interesses) neles representados.
Athey, 2007 e Nutbrown, 2011
Que outras estratégias irá o João encontrar para dar continuidade a este conceito e para nos comunicar a sua forma de pensamento?
Adorava saber que outras interpretações podem nascer daqui. Deixem o vosso comentário!